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Opinião

A Padaria e a alma das coisas

. O ar morno, odorizado de farinha com notas de tosta, açúcar, amêndoa e, até, coco, elementos em gradientes leves e ponderados no meio da predominância do de trigos e centeios, com côdeas que apetece logo barrar de manteiga ou comer mesmo assim sem mais, impregna a nossa vontade de um sentimento de dali não sair jamais.

Folar de Trás-os-Montes

Fizemos uma experiência de fazer folares há dias, cá em casa, a antecipar a Páscoa, usando uma velha receita, mas com os starters e farinha de agora. Estreou-se uma masseira de madeira nova, que escaldámos, e o Miguel fez todo o trabalho de modo profissional.

Batatas de toda a vida

Há centenas de maneiras de comer batatas, mas as que se me gravaram de infância foram as batatas cozidas, as assadas e as fritas, nas variantes de rodelas e em palitos, com mais variantes ainda. Os purés! As palha, do bacalhau à Brás. As do pudim de batata (que era enformado de forma a parecer um castelo da Disney e em que uma das torres desabava no trajecto, do tabuleiro com a travessa, entre a cozinha e a sala de jantar).

Vinho d’alhos

Três ou quatro dias depois de se desfazer o porco – ao desfazer-se, experimentavam-se as carnes na brasa, só com sal, forma empírica de se perceber se o rigor mortis tinha corrido bem e se iriam ser boas para os salpicões e linguiças, já que para os presuntos e espáduas havia ainda que lhes dar tempo no sal – havia um cheiro inconfundível e bom que vinha dos tachos de barro em que, no chão da despensa, se dispunham os vários vinhos d’alhos (dito assim mesmo, no masculino e com um apóstrofo, como era escrito nas receitas e nas cartas em que se contava da matança do porco como um acontecimento, que o era, para as casas de amigos e primalhada) com as diversas carnes.

Castanhas, Inverno, alheiras e couves-penca

Numa merenda de tarde de Inverno em casa do António Vila Franca, em Lamas de Podence, há uns anos, aprendi imenso, ao vê-lo a esfarelar três ou quatro castanhas cozidas sobre uma malga de caldo verde, feito pela Assunção, daqueles em que as couves sabem a couves, e só depois a desenhar-lhe um fio de azeite por cima. Foi dos melhores caldos-verdes da minha vida, ali à lareira, na tábua preguiceira do escano, nevava lá fora!

Rally de Portugal e tardes de vinho quente

Não sei porquê nem me lembro quando, mas era outono ou inverno, o que, em Trás-os-Montes, nesses anos, era quase a mesma coisa: fazia frio, vento, chovia há dias e toda a gente dizia que com um ou dois graus a menos, seria neve. A Estalagem desse tempo era ainda a primeira Estalagem do Caçador, construída como se fosse um hotelzinho suíço ou austríaco, um ponto focal para quem deambulasse naquelas terras longínquas, a horas e horas do Porto.

Beber pelo interior

Todos dizem que este ano foi uma vindima atípica, generosa para alguns, mais avara para outros, difícil para quase todos: sol a mais e chuva a menos, chuva a mais e tempo a menos para a pressa que teve de dar para se porem as uvas no lagar. Está agora aí o Verão dos marmelos para o lavar de cestos e conjecturas numéricas.

Prefiro preferir

Na última vez que aqui tive o privilégio de escrever “traí” as minhas preferências habituais por uma festa. Como já tinha revelado antes que preferia picante, resolvi fazer uma festa com os picantes do Piri Piri do Pine Cliffs e hoje estou arrependido. Não que o picante me tenha feito mal…

Marta Costa e os filetes divinos

Podemos escrever maravilhas sobre um restaurante onde só fomos uma vez? Podemos, se passados quatro meses ainda sonharmos com os filetes de pescada que por lá nos deliciaram. E não só podemos como devemos escrever se, quando voltarmos a Valongo, a primeira coisa que queiramos fazer é ir ao restaurante de Marta Costa

Trás-os-Montes e Valle Pradinhos

Os vinhos de Trás-os-Montes, eruditos pelo seu passado bimilenário, conjugam-se e declinam-se em diversos modos, tempos, pessoas, géneros e números. Têm um fundo comum, étimo fundacional, raiz ancestral, segredo de carácter: a sua honestidade.

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