Criar mais Valor na Vinha e no Vinho

A experimentar

Casos de um Ecossistema Competitivo

 

Ao acometerem um desafio tão exigente, pelo âmbito intrínseco e extrínseco, José Ramalho Fontes e Fernando Bianchi de Aguiar atingiram uma original e provocadora sistematização de experiências. Conseguiram uma colação cuidada e expressiva de realidades e dados. E chegaram, também, a uma orientação da observação analítica que, quer pela extensão quer pela profundidade, mostra a necessidade de reflexão sobre a relação vital com os ecossistemas como condição e aperfeiçoamento existencial.

Ao longo dos casos, e também nos momentos de síntese, os autores conquistam para os leitores horizontes onde cintilam intuições atrativas, como também trincheiras onde se robustecem convicções e se firmam campos de mira. Para quem empreende e para quem defende valor neste ecossistema, achará muito avisado e proveitoso o tempo investido na leitura desta obra.

Da inserção ou relação do ecossistema da vinha e do vinho com outros ecossistemas muito se adverte como conveniente, e em algum dos casos como urgente, continuar a aprofundar quer a consciência quer a atitude de coopetição.

A título de mero exemplo, note-se que se a consolidação e a expansão do turismo em Portugal pode, e deve, representar um grande expositor para a vinha e o vinho – mesmo sem considerar o constante e crescente desafio que a logística enfrenta na exportação -, os canais internacionais próprios desse mesmo sector estão muito aquém de assegurar uma presença consistente. Quantas cadeias internacionais de hotéis asseguram globalmente a presença de vinhos portugueses? Muitos mais exemplos poderíamos adiantar, quer na relação entre estes dois ecossistemas quer com uma variedade expressiva de outros (especialmente o da relação com o próprio ecossistema das bebidas, que lhe é próximo, quase íntimo, e, no entanto, talvez o que lhe supõe uma coexistência muitas vezes hostil ou pelo menos agressiva).

Uma nota vital e urgentíssima é a consideração da vinha e do vinho para o apuramento e a afirmação do ecossistema da gastronomia portuguesa, um dos vectores indubitavelmente essencial para a criação real de valor no mundo agrícola, pecuário e das pescas (e suas indústrias). A gastronomia portuguesa como uma realidade sustentável, privilegiada e maravilhosa da dieta mediterrânica, mas com expressões enriquecidas por toda essa diversíssima inculturação do imenso e antiquíssimo Portugal ultramarino, desse Portugal maior e global que nos respeita e ama.

Fica claro também o testemunho que a sociedade civil, na sua dinâmica empresarial e comercial, precede quase sempre a intervenção pública no protagonismo da evolução do mercado, assegurando quase exclusivamente a sua consistência e os horizontes da sua ambição. A crescente regulação mais do que um instrumento de defesa e recompensa, mostra-se confrangedora do esforço criador de competitividade e de prestígio, que vontades individuais e associativas animam e representam.

Não posso deixar de ficar grato à ousadia desta obra, mas, a melhor expressão disso, fica aqui o convite a conhecê-la.


Manuel Guerra Pinheiro
Advogado

 

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