O congresso dos “cozinheiros”

A experimentar

Política à Mesa

Na ação política, muitas vezes nos chamados congressos partidários, podemos encontrar várias afinidades entre a gestão de um líder partidário e a preparação de um chefe de cozinha gourmet. Com esta ideia, salvaguardando as devidas distâncias, através da analogia conseguimos encontrar pontos de contacto entre estas duas modalidades de serviço público. Sim, é de serviço público, ainda que em sentido muito alargado, que falamos, pois ambos se preparam para prestar um serviço à sua comunidade e, dessa forma, à sociedade em geral.  O mesmo tem implicações na nossa vida quotidiana e não deixa de ter um carácter público, já que exige um escrutínio crítico de todos os envolvidos.

Será que existem muitas diferenças entre um congresso partidário e a cozinha de um restaurante? É evidente que sim, desde logo, pelos ingredientes que cada chefe terá de escolher. O chefe partidário precisa de estar atento às sensibilidades da sua clientela política. O chefe de cozinha deverá ter sempre em conta as particularidades de cada um dos seus clientes. 

Ambos compreendem que os excessos não ajudam, têm de encontrar na forma a aparência do sucesso, e no modo o caminho para atingir os seus objetivos. Tal como a cozinha tem de responder à privacidade do restaurante, também os bastidores do congresso partidário precisam desse recato para fechar os consensos exigidos para o líder ter êxito.

O líder partidário, tal como o chefe da nossa cozinha, tem de saber escolher os ingredientes, não exagerar nos temperos e evitar que cada um tenha influência na preparação. Os seus militantes, tal como os clientes, não podem ficar enfartados ou com dificuldade em fazer a digestão. 

A arte de saber fazer as listas dos órgãos dirigentes de um partido obedece pois a um requintado método semelhante ao serviço de cozinha, quase sempre gourmet, de forma a contentar todos os envolvidos dando uma sensação de dever cumprido. Certo é que, tal como nos restaurantes, existem sempre clientes que não ficam satisfeitos, e muitos até escrevem no livro de reclamações. Afinal, um congresso partidário consegue reunir a atenção dos media que vão disseminando a forma e o modo como o nosso “cozinheiro” vai tratando da ementa. 

No fundo, quase que poderíamos dizer que estamos perante um congresso de “cozinheiros”, todos querem ir para a cozinha manipular os ingredientes, mexer nos tachos mas, no fim, só um consegue ser o cozinheiro chefe. Como diria o Engª António Guterres, também ele muito conhecido de todos, “é a vida”. Como se costuma dizer: qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.


António Tavares
Professor Universitário de Ciência Política

 

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