Uma Paella à Moda do Porto

A experimentar

Na Cantareira, perto da Foz do Douro, existe, há quase dois anos, um novo Habitat, “em que a terra define a sua origem e o fogo é o orgulho da cozinha” e até confunde os valencianos. Em destaque estão as paellas de robalo, de marisco, a de presa ibérica e a de entrecôte, que em nada se assemelham à paella valenciana. São paellas à moda do Porto e são bem melhores. Salvo melhor opinião e suspeito que um valenciano de gema possa não concordar, por respeito às suas tradições. Mas isso agora não interessa nada.

Para os estimados leitores desta crónica, menos familiarizados com a cidade do Porto, (e também menos conhecedores das músicas do Rui Veloso…) gostava que soubessem que a Cantareira é um local castiço e especial, perto da foz do Rio Douro. Habitat de pescadores e de gente verdadeira, onde o bom tem de ser mesmo bom. Feita a introdução, a novidade que apesar de tudo já tem quase dois anos, é que existe lá um novo restaurante, o Habitat, que quer ter tudo a ver com esse habitat da Cantareira.

Habitat Terra e Fogo é um restaurante que gosta de se gabar que a Terra define a sua origem e o Fogo é o orgulho da cozinha, que o trabalha como ninguém. Não parecendo à primeira vista um nome super inspirado para um restaurante, depois de conhecermos a sua filosofia já olhamos para ele com outros olhos.

Devo confessar que apesar de todas as modernices que não param de se afirmar, continuo a achar que um restaurante brilha quando é capaz de escolher os melhores produtos da terra e consegue acertar na forma de os transformar através do fogo. O nosso amor pela melhor gastronomia também se enquadra naquele tipo de fogos que ardem sem se ver.

Neste Habitat, aquilo que traduz melhor este espírito são as paellas. Eles próprios se calhar não gostam muito que se diga assim, mas o conjunto das várias paellas do menu são aquilo a que eu chamaria paellas à Moda do Porto.

Já estive em Valência, terra onde tanto quanto sei as paellas nasceram para o mundo, e no Habitat, quando pedimos qualquer uma das quatro paellas que recomendo, a de robalo, a de marisco, a da presa ibérica ou a de entrecôte, aquilo que nos aparece tem muito pouco a ver com a tradicional paella valenciana.

Não queria cometer o sacrilégio de dizer que ainda é melhor, porque é simplesmente diferente. Sabendo nós que, sobretudo nos dias de hoje, ser diferente nem sempre significa ser melhor. Mas na verdade qualquer uma delas é tão boa que já estou convencido que um dia que volte a Valência e peça paella, ainda vou ouvir-me a dizer que no Habitat é que as paellas são boas.


Manuel Serrão
Empresário

 

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