Ser “Profissional de Cozinha”

A experimentar

Como sabem os que me conhecem, um dos (se não “o”) meus principais objetivos de vida sempre foi fazer uma lista de “livros para levar para a praia”. À falta de convites, proponho-me a fazer uma lista de pontos a não esquecer para a entrada do mês de outubro, tão importante na dinâmica anual de reestruturação, abertura e fecho de vários restaurantes ao longo de todo o nosso lindo país.

O debate acerca das condições de trabalho em restauração e hotelaria já deu pano para mangas e vai passando entre os pingos da chuva. Verdade seja dita, apesar de estar longe da realidade da maior parte das outras profissões, tem vindo a notar-se (mais por conta da disponibilidade da mão de obra e menos pela boa vontade dos empregadores) uma melhoria significativa. Olhemos assim para outros tópicos a manter frescos nesta rentrée. Diversos e aleatórios, tanto para donos como para aprendizes, há bitaite para todos:

  1. Os horários têm de ser definidos e, idilicamente, cumpridos.
  2. Responsabilidades e hierarquias horizontais não funcionam em cozinha.
  3. Tempo de produção e de reposição das preparações (mise en place) tem de ser tido em consideração.
  4. Horário de fecho da cozinha não é a hora a que a equipa sai, é o momento em que podem começar a limpar, arrumar, passar serviço e preparar os trabalhos do dia seguinte.
  5. Férias devem ser planeadas e as chefias devem contabilizar esse tempo no planeamento da equipa.
  6. Ser cozinheiro não quer dizer ser chef de cozinha – um chef de cozinha tem sempre de ser um cozinheiro, ainda que alguns exemplos tentem desmentir a norma.
  7. Um cozinheiro é um artesão, deve dominar uma série de técnicas base, ter formação e, de preferência, gostar de comida.
  8. Fichas técnicas são a salvaguarda de qualquer restaurante.
  9. Um extra novo, na maior parte das cozinhas, conta como meio cozinheiro ou menos.
  10.  Em cozinha usamos fardas. Pode ser mais informal, pode ser mais moderna, mas há uma farda.
  11.  Facas não se partilham (nem se metem em água quente, já agora).
  12. Deve haver dias específicos para encomendas, de preferência divididos por fornecedores.
  13.  Quando alguma coisa acabar – produto ou prato -, já toda a equipa tem de saber que vai acabar.
  14.  Muitas vezes, menos é mais.
  15. Limpeza não é opcional.
  16. A ASAE existe (e a ACT também).
  17.  Isenção de horário de trabalho não é igual a não haver horário de trabalho.
  18.  Gerir um restaurante é duro.
  19. 99% das vezes as alterações são feitas antes ou depois do serviço, não durante.
  20. Faca de serra é para pão e pouco mais.
  21.  As margens de lucro na maior parte dos restaurantes não são grande coisa.
  22. Um cozinheiro nunca passa fome.
  23. Pano de bancada não é pano de limpar chão, facas, tábuas e… mãos.
  24. Encher um restaurante em meia hora nunca é boa ideia.
  25.  Salada mista não deve ser a “opção vegetariana”.

Eu sei que já toda a gente sabe, mas assim até parece ligeiro, é uma lembrança. São 25 os pontos, podiam ser 250, mas já era um começo.

Bons mergulhos, não entrem de cabeça!


Pedro Lencastre Monteiro
Cozinheiro

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