O almoço de trabalho

A experimentar

Política à Mesa

Todos nós sabemos, quer seja na vida política ou na vida profissional, o empenho e a importância do almoço de trabalho, não só para fechar qualquer tipo de negociação, como para aprofundar uma melhor relação de empatia com todos os envolvidos.

Ultimamente, ouvimos falar com frequência dos custos de almoços de trabalho que, muitas vezes, são imputados aos contribuintes, por quem tem responsabilidades públicas.

Estou convicto que uma coisa é usar a demagogia para obter dividendos políticos, outra coisa será questionar a importância desses mesmos almoços. Claro está que existem almoços e almoços cujas ementas são sempre discutíveis. Um almoço onde seja possível encontrar ostras, pera manca e talvez um excelente peixe ou uma magnífica carne estará, de certeza, condicionado pelo estatuto da outra parte. Aliás, existe muita gente que considera importante estes almoços porque funcionam um pouco como um investimento de médio prazo e podem ajudar a fazer lobby por uma causa, sem colocar ninguém em crise.

Seja ao nível de Estado e das autarquias, da vida das empresas ou das instituições não pode ficar nunca em causa a dignidade institucional dos mandantes e dos participantes. Dessa forma, vamos arrastar as instituições para um desgaste que não ajuda ninguém e só vai facilitar a vida aos mais populistas com uma difícil relação com a gastronomia. Tudo isto vem a propósito das “almoçaradas” da Câmara de Oeiras do Presidente Isaltino e da sua equipa. 

Vamos por partes. Em primeiro lugar, Isaltino de Morais não teve receio e divulgou, a pedido da revista Sábado, os seus gastos e parece que foi único. Provavelmente outros teriam outras iguarias e outros pecados. 

Depois perdeu a razão quando procurou justificar a qualidade dos almoços esquecendo, ou melhor, não esclarecendo, quem eram os convivas além dos seus colaboradores. Finalmente, prestou um mau serviço a si próprio quando, de forma algo pitoresca, evidenciou os méritos dos menus desses almoços de trabalho numa sessão da sua Assembleia Municipal.

Como em tudo na vida, existem sempre aspetos positivos. Inevitavelmente ficamos a conhecer um vasto conjunto de restaurantes e tascas cujas ementas justificam a nossa visita àquela geografia enquanto que, ao mesmo tempo, podemos associar o verbo “isaltinar” à mais profunda gastronomia de Oeiras e arredores.


António Tavares
Professor Universitário de Ciência Política

 

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