Deitar restos de fruta e cascas de legumes para o lixo é uma prática comum em muitas casas. Com a crescente preocupação ambiental relacionada com a gestão e tratamento dos resíduos urbanos, a compostagem começa a ganhar alguma notoriedade (seja doméstica ou comunitária). Em Portugal, onde cerca de 31% dos resíduos urbanos são ainda depositados em aterros sanitários – havendo uma parcela significativa correspondente a matéria orgânica –, a necessidade de optar por estas alternativas aumenta. O Azul conversou com uma especialista para esclarecer as principais dúvidas sobre compostagem.
O que é compostagem?
A compostagem é um processo natural de decomposição da matéria orgânica, impulsionado por microrganismos na presença de oxigénio. Essa transformação converte resíduos biodegradáveis, como restos de comida e detritos de jardim, num fertilizante natural conhecido como composto, rico em nutrientes. O composto pode ser utilizado para enriquecer o solo em vasos, hortas e jardins, bem como na agricultura biológica.
Há três formas de compostagem: a doméstica, a comunitária e a mecânica. O seu objectivo é reduzir a quantidade de resíduos orgânicos enviados para aterro sanitário, promovendo a reutilização e valorização destes materiais.
O que preciso para começar?
Antes de se iniciar a compostagem, a bióloga Carolina Bianchi realça a importância de se fazer uma “auditoria” na cozinha para identificar desperdícios que podem ser evitáveis. Feito isso, é hora de avaliar as opções disponíveis. “A pessoa deve analisar as possibilidades para adoptar a prática. A dinâmica muda de acordo com a habitação: se for uma moradia e tiver jardim, é de uma maneira, mas se morar num apartamento, talvez seja necessário procurar uma compostagem comunitária.”
No caso da compostagem doméstica, recomenda-se adquirir um compostor, um contentor plástico destinado ao depósito dos resíduos. Em algumas regiões de Portugal, é possível obtê-los gratuitamente. Adicionalmente, é essencial garantir uma proporção equilibrada de resíduos “castanhos” (tais como folhas secas e ramos) e resíduos “verdes” (que incluem restos de frutas e cascas de legumes) de modo a fomentar um processo de decomposição saudável e eficiente.
Onde conseguir um contentor?
Em determinadas regiões, pode-se obter um contentor sem custo, desde que se cumpram os critérios definidos pela entidade distribuidora. Recomenda-se verificar a página na Internet da câmara municipal local para obter informações sobre os projectos à disposição, como o “Lisboa a Compostar”.
A Lipor, por exemplo, organização que gere resíduos em oito municípios (Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde) disponibiliza compostores gratuitos para a compostagem doméstica, além de pequenos contentores destinados ao tratamento mecânico. Para obter o equipamento, é necessário preencher um formulário online e participar numa formação.
Há vários outros sistemas multimunicipais ou municipais a prestar este serviço. Mas no caso de o município não oferecer um compostor, é possível comprá-lo em lojas de jardinagem, centros de bricolagem e estabelecimentos online especializados em produtos para o lar e jardim. É crucial escolher um contentor apropriado para o espaço disponível e a quantidade de resíduos a ser compostada.
Já tenho um compostor. E agora, como fazer?
O processo é bastante simples, mas é preciso ter atenção aos detalhes. Na compostagem doméstica, após adquirir um compostor, deve-se começar por adicionar ramos mais espessos ao fundo do contentor para permitir uma boa ventilação. Em seguida, recomenda-se colocar uma camada de cerca de 10 centímetros de “castanhos”, seguida por algum composto já pronto para auxiliar o processo.
Posteriormente, intercale os resíduos “verdes” e “castanhos”. É fundamental manter as camadas húmidas bem arejadas. Para evitar problemas de proliferação de insectos e maus odores, lembre-se de que os materiais “castanhos” devem sempre ficar na parte superior. Ao longo de alguns meses, os microrganismos irão transformar gradualmente os resíduos em composto.
“A compostagem começa no balcão da cozinha. É necessário criar o hábito de separar os resíduos enquanto cozinha”, alerta Carolina Bianchi. A bióloga sublinha que o processo torna-se mais fluido com um planeamento prévio, pelo que recomenda ter um recipiente com tampa onde os resíduos orgânicos possam ser armazenados antes de serem transferidos para o compostor.
O que é permitido e proibido no compostor?
O processo de compostagem doméstica, conforme as orientações da Agência Portuguesa do Ambiente, permite a inclusão de uma variedade de materiais biodegradáveis. É recomendável cortar os resíduos em pequenos pedaços. Certos resíduos, como restos de carne e peixe, ossos, óleo, comidas gordurosas, lacticínios, cascas e restos de ovos, cortiça, beatas de cigarros, fezes de animais e fraldas, não podem ir para o compostor.
Causa mau cheiro?
A compostagem pode, por vezes, originar maus odores, mas há como os evitar. A utilização de materiais ricos em carbono, como folhas secas e aparas de madeira, ajuda a absorver os cheiros indesejados. Além disso, o processo de revolvimento do composto contribui para reduzir o mau cheiro, permitindo que a decomposição ocorra de forma controlada e eficiente.
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