Há mais de 130 anos que o Reid’s Palace, assente sobre uma falésia no Funchal, é uma referência mundial do luxo e do bom gosto. Cheio de histórias das grandes figuras internacionais que o escolheram, concilia as glórias do passado com um conforto contemporâneo que passa pelo design, pela gastronomia e pelo bem-estar.
Na véspera de natal de 1893, a capitania do Funchal e os navios da Royal Navy ali ancorados assinalaram com 21 salvas de canhão a chegada da imperatriz da Áustria-Hungria, Elizabeth de Habsburgo, conhecida em todo o mundo pelo petit nom de Sissi, que, precisamente nessa data, celebrava 56 anos. Os carregadores, que imediatamente acorreram ao iate imperial “Greif,” sabiam de antemão onde deveriam conduzir os reais viajantes e sua abundante bagagem: Ao Reid’s Palace Hotel, inaugurado apenas dois anos antes, mas cuja fama de requinte sem igual já chegara aos príncipes de sangue e da indústria de todo o mundo. Sua Majestade Imperial, tida ainda por cima como uma das mulheres mais belas da Europa, ali permaneceria durante quase dois meses, já que o Reid’s lhe deu o sossego e discrição a que aspirava no final de uma vida frequentemente visitada pela tragédia, ao mesmo tempo que proporcionava à sua comitiva um glamour rodopiante digno da Viena de Strauss pai e filho. Sissi voltava, assim, à ilha que visitara na juventude e onde, segundo escreve Agustina Bessa-Luís no romance A Corte do Norte, deixara uma forte impressão, levando as donzelas do Funchal a trocar os ingénuos vestidos de cambraia a que estavam habituadas por modas mais elaboradas.

Tal escolha de alojamento não passou despercebida aos pares europeus de Sissi, já que, nas décadas seguintes, o Reid’s seria procurado por outras cabeças coroadas da Europa como Umberto de Sabóia, último Rei de Itália, Zita, última Imperatriz da Áustria que aqui se deslocaria anualmente para visitar o túmulo do marido falecido na Madeira, o duque de Windsor e vários membros da família real espanhola. Ou vários titulares britânicos, o mais famoso dos quais foi Winston Churchill, cujas presenças assíduas levaram a que se chamasse à sala de jantar do hotel “Câmara dos Lords.” Na origem de tudo está a visão empreendedora de William Reid, que ainda adolescente chegou à Madeira em busca dos invernos amenos que a sua Escócia natal lhe negava. Sem meios de fortuna, o rapaz começou por trabalhar numa padaria, mas em breve começaria a procurar oportunidades de negócio, decidindo-se pela exportação de vinho de Madeira e mais tarde também pela exploração de chalets e quintas para aluguer a turistas endinheirados que, em número crescente, procuravam a região para estadias de média e longa duração. Seria, aliás, no âmbito desta atividade que, em 1847, William conheceria a sua futura mulher, Margaret Dewey, dama de companhia de Lady Camden, que chegara à ilha para escapar ao inverno britânico, tão desfavorável aos pulmões, e que consigo levara mobília e pessoal doméstico.
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