Quem mora no centro de Lisboa, reparou, certamente, que a oferta gastronómica mudou consideravelmente nesta última década, período em que a cidade se tornou num polo de atracção turística e de residência para estrangeiros. No início do boom foram vários os modelos com ADN luso que pareciam impor-se: novas tascas, redes de casas de pastéis de natas, bares de vinhos portugueses ou conceitos de restauração como o Mercado Time Out ou o Bairro do Avillez.
Porém, nos últimos cinco, seis anos (mesmo com dois de pandemia pelo meio), com a cidade a ganhar epítetos de “nova Berlim”, hub para nómadas digitais, bem como exílio fiscal e seguro para muitos estrangeiros, outro modelo veio rivalizar, seguindo algumas tendências internacionais. Umas mais ligadas a uma certa artesanalidade, como as padarias de pão de fermentação lenta, bares de vinhos naturais, gelatarias italianas, restaurantes e bares mais alternativos; outras mais conjunturais, como a nova vaga de restaurantes mexicanos, os brunchs, “breakfast all day”, e outros lugares “giros”, onde “ter onda” importa mais do que qualidade. Alguns destes lugares pertencem a portugueses que procuram surfar o momento, outros são de expatriados já estabelecidos por cá há algum tempo. E se uns aportam pouco ou nada de novo, outros acrescentam valor ou mesmo uma brisa de ar fresco. O Tricky’s, o restaurante sobre o qual escrevo hoje, encontra-se neste segundo grupo.
Pratos para dividir
Localizado no que foi uma antiga loja de móveis de design, o Tricky’s tem aquele lado de bar alternativo com comida meio negligé, mas assumido: materiais crus, acabamentos por finalizar, mobiliário e objectos em segunda mão ou de refugo, bom som, volume alto (mas sem exageros que impeçam uma boa conversa), traje “à vontade” e informalidade em barda. Porém, há um equilíbrio interessante entre esse cunho manifestamente descerimonioso e um lado sério e profissional. Jenifer Duke, (norte-americana) é proprietária da pequena distribuidora de vinhos naturais Rebel Rebel e é ela que se ocupa da sala e, claro, dos vinhos, bem secundada por uma bem disposta equipa de sala, enquanto a comida fica a cargo do amigo e sócio João Magalhães Correia – também chefe e co-proprietário (mas com outros sócios), do Água pela Barba e Season, situados não muito longe dali. A carta é composta por uma dezena de pratos para dividir – mais para o mar e para o vegetal do que para a carne – sem grandes distinções entre entradas e principais, ainda que os últimos da lista sejam normalmente os de maior substância.
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