1996: No memorável reino de Gambrinus, os clientes são as estrelas

A experimentar

Da charcutaria e cervejaria, aberta em 1936, até ao luxuoso restaurante atual, passaram quase 90 anos. O Gambrinus assistiu a uma guerra mundial, ao 25 de Abril e ao 1º de Maio, ao frenesim das noites de ópera e das touradas e resistiu a um incêndio. Indiferente a modas, é uma escola de bem servir, onde prevalece, acima de tudo, a satisfação do cliente, mesmo que isso signifique “casar” pregos no pão com Barca Velha. Em 1996, Jorge Sampaio almoçou com Mário Soares no Gambrinus, na transição da presidência da República. Todas as semanas, para comemorar os 50 anos do Expresso, fazemos uma viagem no tempo, com apoio do Recheio, para relembrar 50 restaurantes que marcaram as últimas décadas em Portugal.

A Sala Grande do restaurante
1 / 50 | A Sala Grande do restaurante

Esmeram-se a abrir ostras, a empratar e a preparar café de balão. Empilham pires para contar as imperiais, retiram mariscos da banca e respondem à pressão do serviço de sala. Seduzem o cliente com croquetes e viciantes torradinhas, coroadas com finas fatias de presunto, e ainda distribuem humor… É uma alegria entrar no bar do restaurante Gambrinus, no número 23 da rua das Portas de Santo Antão, em Lisboa, e sentar num dos 12 bancos de madeira e couro, assentes em mármore de Estremoz.

A famosa Barra do Gambrinus

A famosa Barra do Gambrinus

Fardados a rigor, comme il faut, são os funcionários desta ‘barra’ a construir o espírito da casa. Uma senhora de 88 anos já quis levar Carlos Serafim para os EUA, via nele um mordomo, mas o chefe do bar declinou. Não tem espírito de emigrante e gosta muito do que aqui faz. Todos os dias liga ‘o turbo’, mas repõe a energia através de um “reset”. Carlos sucedeu ao sportinguista José Brito Fernandes, que aqui trabalhou mais de meio século, uma “lenda” a quem muitos vinham dizer “um olá ou dar uma piadinha”. O Gambrinus, garante Carlos, espelha a retoma da nação: “Quando começa a trabalhar bem, o país está bem, é como o Benfica” (risos). No ano em que o clube das Águias foi campeão pela 37ª vez, os adeptos encheram o balcão de taças de champanhe, “de uma ponta à outra”, conta o colega Manuel Martins. Curiosamente, ou talvez não, no Gambrinus o presidente do F.C. Porto, Pinto da Costa, “come sempre fígados de aves e empadão de perdiz”, revela o chef Carlos Oliveira.

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