Dois vigaristas chegam a uma povoação governada por um rei que era famoso por gastar o orçamento do reino em … roupas caras. Fazendo-se passar por tecelões, estes dois trapaceiros prometem criar para o soberano roupas incrivelmente bonitas e inovadoras. Eram tão distintas que apenas as pessoas com bom muito bom gosto as conseguiriam ver.
Viciado em alta costura, o rei contratou-os imediatamente. Logo nesse dia os dois comparsas montaram os teares e começaram o “trabalho”. Todo este inusitado acontecimento despertou interesse em toda a vizinhança. Camponeses, funcionários do rei e até o próprio monarca foram passando pelo atelier. Todos viram o mesmo, ou melhor, não viram. Os teares pareciam vazios mas ninguém denunciou nada, com medo de ser acusado de possuir um mau gosto.
Passados alguns dias os vigaristas anunciaram que as roupas estavam prontas. “Vestiram” o rei com elas, e o monarca saiu em procissão diante de toda a cidade. Os habitantes, com o medo de parecerem ineptos ou estúpidos, entraram no engodo dos dois aldrabões e fingem-se abismados com a beleza das roupas que o rei carregava, até que … uma criança deixa escapar uma frase que ficaria para a história … «o rei vai nu!!!».
Embora assustado com os devaneios daquela criança, o rei continuou o seu passeio majestoso, caminhando ainda com mais orgulho. Este é um resumo de “A roupa nova do rei”, um conto muito popular escrito em 1837 pelo autor dinamarquês Hans Christian Andersen. Desde então, a expressão “o rei vai nu” passou a simbolizar a situação em que as pessoas adoptam a percepção das massas, daquilo que é popular, daquilo que é aceite unanimemente de modo a que com essa opinião “comunitária” se sintam mais conhecedoras, reconhecidas ou inteligentes.
Curiosamente, o rei costuma ir nu, algumas vezes, bem, na verdade, demasiadas vezes, no mundo dos vinhos. Hoje falo-vos de uma “espécie de nudez”, a que está relacionada com o facto dos bons vinhos, possuírem obrigatoriamente (este advérbio complica muitas vezes o que se vai dizer a seguir) estágio em madeira. Eu próprio, quando me apresentam um vinho sem estágio em madeira, baixo, involuntariamente e imediatamente, as expectativas. O Dona Matilde Calços Largos 2020 (40 €, 92 pts.), no fim de semana passado, deu-me uma bela lição de nudez. 😛
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