Conhecida pelo queijo DOP, São Jorge tem ainda muitos segredos por descobrir. Entre fajãs vertiginosas, misteriosas grutas e mágicas cascatas, há ainda piscinas naturais, passeios no mar e alojamentos inspiradores para conhecer esta ilha do Grupo Central do Arquipélago dos Açores.
Nem mais, nem menos que “o mais belo local do Mundo para passar férias”. Assim descreveu a “National Geographic Traveller”, habituada a viajar pelas mais diversas paisagens de deslumbramento, à Fajã da Caldeira de Santo Cristo, em São Jorge. Este é apenas uma das dez razões que justificam uma visita à quarta maior ilha açoriana.

Fajã de Santo Cristo Foto: Aventour
Fajã da Caldeira de Santo Cristo
A ilha de São Jorge é conhecida por ser farta nestas formações naturais – as fajãs –, resultantes do deslizamento de terras das arribas por ação vulcânica. Há mais de 70, cada uma com a sua particularidade. Em comum, estes pequenos espaços de terra entre as escarpas e o mar oferecem um microclima e uma vivência cultural peculiar que resultam das tradições cultivadas ao longo dos séculos de quase isolamento. Localizada na freguesia da Ribeira Seca, concelho da Calheta, a Fajã da Caldeira de Santo Cristo vive rodeada de uma paisagem vibrante e, tal como os mais belos locais, exige esforço para ser alcançada.
Prepare-se para caminhar, já que não é acessível de automóvel. Comece o percurso na serra do Topo, a 700 metros de altitude, percorrendo durante cerca de hora e meia um trilho assinalado de 5 km. O barco é uma alternativa. Seja qual for o ponto de partida, pelo caminho encontra muitos motivos para parar, apreciar e explorar. Misteriosas grutas e mágicas cascatas de água cristalina fazem parte do roteiro, bem como o santuário do Senhor Santo Cristo e o Centro de Interpretação Ambiental. Se é adepto da observação de aves, o percurso pela fajã e a lagoa oferecem uma diversidade de espécies, que incluem o cagarro – a mais abundante das aves marinhas nidificantes – gansos e patos. Das espécies marinhas são observáveis estrelas-do-mar, ouriços-do-mar e até tartarugas. Ao longo do percurso encante-se ainda com uma curiosa vegetação típica da Macaronésia, de onde se destacam o louro e a urze.

Caldeira GuestHouse&SurfCamp Dr
Surf e bodyboard
Outra das grandes particularidades naturais da Fajã da Caldeira de Santo Cristo é a qualidade das ondas, que fazem deste local uma espécie de santuário para praticantes de surf e bodyboard, oriundos um pouco de todo o mundo. Foi a pensar nestes aventureiros que nasceu a Caldeira GuestHouse & SurfCamp (tel. 912517001), com várias tipologias de acomodações (a partir de €45), aluga pranchas de surf (e dá aulas), bodyboard, stand up paddle, caiaques, equipamento de snorkeling e de pesca submarina, além de fornecer transporte próprio até às ondas. Mas, qualquer hóspede é bem-vindo. Outra alternativa é a Casa da Lagoa, com dois quartos e onde há sempre um barco de borracha disponível para explorar a lagoa, pranchas de bodyboard e… canas de pesca.
Trilhos do Topo às fajãs
O isolamento e a dificuldade de acesso são parte do encanto. Excluindo a via marítima, só se chega à Fajã da Caldeira de Santo Cristo, desde a Fajã dos Cubres (a pé ou de moto 4) ou desde a Serra do Topo, deixando o carro junto ao parque eólico e percorrendo a pé o trilho PR01 SJO. Desce-se lentamente, parando para refrescar numa convidativa cascata. Lentamente, desvenda-se o destino paradisíaco formado a partir de um desmoronamento de terras. A proximidade ao mar desenhou uma lagoa de contornos poéticos, onde crescem as únicas amêijoas produzidas nos Açores, fartas e pode saborear no restaurante O Borges. Visite a Casa do Parque, a igreja e saiba que o trilho prossegue até à Fajã dos Cubres, totalizando cerca de 10 km. Mas só a pernoita permite desligar a sério, perceber o valor do silêncio, do sossego e da natureza. Terá tempo de sobra para ler, mergulhar e nadar nesta lagoa muito especial.

Poça Simão Dias Joel Santos
Poça Simão Dias
Uma piscina natural de cor azul profundo, rodeada de escarpas negras de basalto muito altas que travam a força das águas do oceano Atlântico, arranca reações de espanto. Na Fajã do Ouvidor, na Poça Simão Dias, a maior da ilha de São Jorge, a água é límpida e o cenário selvagem. Pede mergulho imediato e, claro, snorkelling. Extensa e irregular, devido às formações rochosas dispersas, resultado de erupções vulcânicas, a piscina tem uma zona profunda com um brilho dourado particular que contorna o azul-celeste da água. Aventure-se pelo rappel ou escalada com a Aventour. Procure mais piscinas naturais. Aqui são chamadas poças. A mais próxima é a do Caneiro. A Fajã do Ouvidor pertence ao concelho das Velas, fica situada na costa norte da ilha, sobranceira à falésia com 400 metros. É também conhecida como Fajã do Porto. Conheça este ancoradouro com tradição piscatória e embarcações coloridas. Além de piscinas, na costa da Fajã do Ouvidor, há grutas formadas pela erosão marinha. Faça uma visita de barco à gruta Furna do Lobo com cerca de 50 metros de comprimento. Suba ao miradouro no alto da serra e fique sem respiração com a panorâmica sobre a Fajã, com a Graciosa e a Terceira em pano de fundo.
Aventura
O programa “Rota das Fajãs”, de três dias, organizado pela Aventour Azores Adventures (Tel. 963831986), e pode ser personalizado e feito parcialmente, passa por 16 fajãs, das mais de 70 existentes na ilha. A empresa de aventura também oferece a possibilidade de explorar tubos lávicos, num dos passeios de espeleologia, que podem levar jovens com mais de 10 anos a explorar os mistérios de tubos vulcânicos e grutas perto do mar. Sediada na ilha, a Aventour conhece todos os recantos e segredos de São Jorge. Além de disponibilizar guias, também organiza as mais diversas atividades radicais, adaptadas a diferentes graus de dificuldade, entre percursos pedestres, orientação, escalada e canyoning.

Restaurante Fornos de Lava Dr
Fornos de Lava
Outra paragem obrigatória para desfrutar da gastronomia local é o restaurante Fornos de Lava (Tel. 917394977). Localizado em Velas, abriu, numa antiga eira, há mais de 20 anos, tempo suficiente para se tornar exímio na arte de bem servir. Dada a qualidade dos produtos e da confeção, na amenta não tem muitas alterações, mantendo-se segura na apresentação das várias especialidades: o peixe fresco do dia, o “Filet mignon” e a “Costeleta de vitela”, as cataplanas, lapas, “Amêijoas da Fajã de Santo Cristo” e o Queijo São Jorge. Prove ainda o bife de vitela gratinado com crosta de queijo da ilha acompanhado com batata, batata-doce, legumes e alecrim da horta. O edifício destaca-se na paisagem e a vista compensa.
Continue a ler o artigo em Expresso.