“Neste momento, isto ainda não é o fim. Nem sequer é o começo do fim. Mas é, talvez, o fim do começo.” Winston Churchill
Platão defendia que “a parte mais importante de um trabalho é o seu inicio”. Assim é, não só no trabalho, mas também numa obra, num projecto, numa relação, num livro, numa família, na vida, e como no final vão perceber, também num hotel. Quase sempre, esse inicio vai condicionar o final, mas mais importante que isso, vai moldar o entretanto, e isso acrescenta algum encanto aquilo que costumamos chamar de destino.
Para reforçar esta ideia, vou falar-vos do filme «Encanto» da Disney. Por favor, não sejam preconceituosos, porque os filmes desta empresa já há muito tempo que deixaram de ser, “apenas” para as crianças. Caso ainda não tenham visto o filme, podem continuar a ler, pois não há spoilers importantes. 😛
Este «Encanto» não ocorre num ano específico, no entanto percebemos que o cenário deve pertencer ao início do século XX. A história começa com os avós de Mirabel Madrigal, a protagonista, a fugir de um conflito, durante o qual seu avô, Pedro (que nome bonito ;)), morre (isso já não é tão bonito…). O clã Madrigal é um pouco “fora da caixa”…
A corpulenta Luísa possui força sobre-humana, Isabela tem a habilidade de conseguir fazer as flores desabrocharem, António consegue falar com os animais, e Pepa é capaz de controlar o clima com seu humor. Os problemas começam a surgir quando Mirabel se apercebe que não foi abençoada com nenhum tipo de dom.
Esta menina adorável parece surgir em contrassenso com outras heroínas da Disney, como Moana, Rapunzel ou a Elsa de Frozen, pois é … normal. Quando a milagre (uma vela encantada nascida do amor da Avó Alma e do avô Pedro e que metamoforiza o dom mágico dos Madrigais) começa a escurecer (e com ela, desaparecem os poderes de todos), começam também a surgir rachaduras na casa da família: a formosa e colorida casita.
É a pequena Mirabel, sem poderes especiais, quem tem de descobrir como manter a chama acesa. Assim, «Encanto» não é tanto um conto de fadas, mas uma saga familiar com uma pitada de realismo mágico. É uma epopeia musical sobre amor incondicional, sobre o entender do valor próprio e sobre o fardo de viver de acordo com as expectativas de alguém.
Desenrolando-se algures nas montanhas da Colômbia, este musical brilhante toca muitos assuntos sensíveis, como a rivalidade entre irmãos e a capacidade curativa da normalidade. O que é interessante (e confesso inesperado) é a abordagem subtil do trauma e deslocamento geracional decorrente da evolução cultural das relações humanas.
Aprendemos que nem tudo o que funcionou bem no passado, nos garante um futuro auspicioso. O filme tem ainda como mais-valia uma banda sonora espectacular, composta por originais de Lin-Manuel Miranda. A salsa “We Don’t Talk About Bruno” é viciante (sobretudo se ouvida na versão original, passeando uma harmonia fonética incrível)!!!
A “histeria” prolongada e globalizada, em torno de «Encanto», no entanto, parece ser sustentada no seu afastamento do tradicional sentimentalismo em direcção a uma celebração da cura comum e orientada para e pela comunidade, que nos oferece inúmeras/valiosas lições.
Que não somos definidos pelas nossas habilidades ou poderes, que não devemos carregar todos os problemas apenas nas nossas costas, que precisamos mesmo de falar do “Bruno” (sobre as pessoas, doentes ou não, que veem as coisas de maneira diferente ou que se comportam de maneira diferente), que o nosso maior poder é a capacidade de comunicar, que os nossos traumas não são apenas nossos, e que algumas coisas necessitam mesmo de ser quebradas para que possam realmente ser concertadas definitivamente.
Na minha opinião, o final revela o dom de Mirabel, o de conseguir manter os poderes dos seus familiares vivos, ajudando-os a florescer. Quando ela ajuda Isabela a aceitar-se, as rachaduras na casita começam a fechar e a sua irmã descobre novas habilidades. Pelo contrário, quando Mirabel e Abuela discutem devido a problemas familiares, o milagre diminui, e as rachaduras na casita, que simbolizam as rachaduras na família Madrigal, arruínam a casa e o milagre está perdido.
É somente quando toda a família se reconcilia no local onde Abuela recebeu o milagre pela primeira vez, que a magia pode ganhar vida novamente. Na versão em Inglês os autores parecem querer empurrar-nos para esta conclusão, pois, “Mirabel” sugere “miracle” e “Madrigal” remete para “magical”. Mas isto, podem ser apenas teorias… 😛
Assim, e de forma resumida, o poder de Mirabel é a aglutinação, do amor, do apoio e da união, pela família e pela comunidade. E essa comunidade dá-nos também uma lição de como superarmos os problemas: em equipa. Após décadas a ser ajudada pelos Madrigal, a cidade retribui, na altura em que esta família mais precisa. Desta forma, percebemos que a magia mais abnegada está nos relacionamentos pessoais: um grupo unido pode mover montanhas aparentemente intransponíveis.
Este filme metamoforiza bem aquilo que eu disse no inicio: a importância do começar bem e de que esse começo nos faça perceber a beleza do que estamos a conhecer. Por meio de uma narração muito fluida e de um espectáculo cinematográfico impressionante, aprendemos como uma vela mágica é capaz de gerar um milagre que traz dons sobrenaturais para a família e o que isso significa para eles, para a comunidade e para a sua casita.
Percebemos isso no inicio, rapidamente, como se sempre o soubéssemos. Isso é o que os bons contadores de histórias fazem: embeber-nos numa narrativa, como se fizéssemos parte dela. Um inicio assim, cria também expectativas para as personagens e faz-nos, de certo modo, prever o futuro. Um bom começo torna o resto mais fácil, estabelece uma base sobre a qual construir.
Não é apenas nas introduções da Disney ou no estabelecimento das dinâmicas familiares da família Madrigal que o começo é importante. Uma boa educação básica ajuda-nos na nossa vida académica. Bons alicerces são essenciais para uma casa estável. O modo como começamos um refugado dita muito daquilo que será o nosso guisado.
Esta relação entre o que se é no inicio e aquilo que se quer ser no futuro, é particularmente sensível, como vos disse no inicio, no caso da hotelaria. Há que encontrar uma necessidade, um cliente alvo, um espaço, uma filosofia, uma identidade … que a concorrência não tenha já. Tudo logo no inicio, comunicado ao cliente, como se sempre tivesse existido.
Hoje fala-vos de um caso, em que o inicio me faz antever um futuro auspicioso: o Boeira Garden Porto Gaia Hotel, Curio Collection by Hilton. Perto do Porto histórico, este hotel está a menos de dois quilómetros do bairro da Ribeira e a 15 minutos a pé das caves do vinho do Porto em Gaia. Oferece jardins históricos e exuberantes para eventos ao ar livre ou para um simples passeio, suites espaçosas e um relaxante SPA (com piscina interior, banhos termais, sauna, banho turco, centro de fitness, banhos Vichy e sessões de meditação).
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