Terramay, um lugar para pensar o que comemos com vista para o Alqueva

A experimentar

Com uma vertente de produção baseada na agricultura regenerativa e outra de turismo, a Terramay pretende ser um espaço de encontro para todos os que se preocupam com a forma como nos alimentamos e com o futuro do planeta. Anna e David convidam todos a juntar-se à conversa.

Há não muito tempo, o português David e a alemã Anna de Brito viviam na Alemanha e tinham um projecto para resolver um dos grandes problemas dos restaurantes nos dias que correm: os clientes que fazem reservas e não aparecem. Hoje o casal vive no meio do Alentejo com os três filhos, numa herdade com 560 hectares, com vista para o Alqueva, cavalos, porcos, vacas, ovelhas, cabras e uma horta. E o filho mais novo, que já nasceu em Portugal, não conhece outra coisa senão o andar livre pelo campo, brincar com os animais, e apanhar os morangos quando eles ficam vermelhos.

Foi a soma de muitas coisas que levou a esta mudança de vida, mas se for preciso identificar uma marcante David aponta a Ted Talk com Allan Savory. “Mudou a minha perspectiva do mundo”, diz. Nesta palestra, intitulada “Como combater a desertificação e fazer retroceder as alterações climáticas”, o biólogo nascido no Zimbabué propõe uma “gestão holística das pastagens”, defendendo o maneio dos animais como forma de preservar os solos.

“Não tinha a noção de que estávamos nesta condição e que a subsistência da humanidade estava em risco”, confessa David. “A partir desse momento decidimos trabalhar em algo que pudesse garantir um futuro para os nossos filhos.” Vieram a Portugal já com a ideia de encontrar um terreno para viver, e desafiaram um amigo suíço, Thomas Sterchi, a vir com eles conhecer o país. Céptico em relação à qualidade do vinho nacional, Thomas haveria de, nessa viagem, render-se a esta e a outras qualidades portuguesas. No final, decidiu fazer parte do projecto de Anna e David e os três tornaram-se sócios do que é hoje a Terramay.

“Anna queria um sítio com água”, conta David. E, depois de percorrerem grande parte do país, encontraram perto do Alandroal, mesmo à beira de Espanha, aquilo que procuravam. Compraram uma primeira propriedade, a Granja, mudaram-se em Novembro de 2018 e em Janeiro de 2019 souberam que a propriedade ao lado, Santa Catarina, “ia ser comprada por uma grande empresa que queria plantar olival superintensivo”.

Perceberam que isso punha em causa o projecto que tinham de agricultura regenerativa, livre de pesticidas, que contribuísse para a biodiversidade e a saúde dos solos. Falaram com Thomas e tomaram a decisão: ao investimento inicial de 1,8 milhões, juntou-se outro de 1,1 e à primeira propriedade juntou-se Santa Catarina. Só depois perceberam que no passado as duas tinham já sido uma só.

O projecto agrícola já arrancou, o turístico está a dar os primeiros passos. No futuro, haverá alojamento (entre oito a 15 quartos), programas específicos que passam por um maior envolvimento com as actividades da Terramay (com estadia de, no mínimo 15 dias, para que possa haver uma verdadeira aprendizagem), passeios […]

O artigo foi publicado em Agroportal.

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