Uma dívida de monges beneditinos, um matrimónio fora dos cânones sociais, o primeiro ‘château’ dos vinhos verdes. A Casa de Vilacetinho tem um longo percurso e muitas histórias para contar.
A Casa de Vilacetinho data de 1790 e é um dos pioneiros na produção de Vinhos Verdes com marca própria. A propriedade, localizada em Alpendurada, na sub-região de Baião, pertencia desde 1100 aos monges beneditinos locais, tendo sido entregue no século XVIII como pagamento de uma dívida, de origem indeterminada. Todavia, os registos escritos de produção de vinho remontam a 1679.
Porém, a marca Casa de VIlacetinho foi criada mais recentemente, nos anos 50 do século passado, quando o tio avô de João Miguel Maia, atual administrador da empresa, por via de “um casamento com uma senhora divorciada, foi ostracizado e banido do Porto para a quinta”. A “paixão pelo vinho e a terra”, a vontade em “produzir e engarrafar vinhos que não eram muito comuns na região”, então mais conhecidos dos “pequenos lavradores que vendiam a sua produção a cooperativas ou a engarrafadores”, levaram-no a criar a referida marca.
João Miguel Maia afirma que foi assim gerado “o primeiro ‘château’ dos Vinhos Verdes, que teve muito sucesso desde o início”: basta dizer que foi “o vinho oficial da visita da rainha D. Isabel II de Inglaterra a Portugal (1957), foi o primeiro vinho a ser servido nos voos da TAP em garrafas miniatura e esteve sempre nos locais mais importantes, como na carta do hotel Ritz”, elenca.
Mais recentemente, nos anos 90, foram os pais de João Miguel Maia quem se encarregaram de replantar a vinha e montar uma adega nova, expondo uma nova versão do Vinho Verde, mais elegante e sério. “Daí a aposta na casta Avesso, para contar uma história diferente da região, não tanto pelo lado exuberante e perfumado dos verdes tradicionais, mas sim pela austeridade, carácter e equilíbrio da casta”.
A quinta possui cerca de 30 hectares de vinha, dos quais 50% da casta Avesso, com os restantes 50% repartidos entre Arinto, “excelente para compor lotes”, um pouco de Loureiro e Azal. De acordo com Ricardo Pedrosa, responsável pela viticultura, a propriedade localiza-se em “meia encosta, com solos pobres, franco arenosos, de tendência ácida”. A sul, o rio Douro “passa a cerca de 1 km e, do lado norte, temos Tâmega, o que proporciona certa humidade nas épocas mais quentes do ano”.
Vilacetinho reúne, na sua perspectiva, “condições muito próprias” para a Avesso. Por um lado, goza da “humidade, que mantém a frescura”, por outro, “a temperatura do interior sul da região, quente no Verão e com amplitudes térmicas elevadas, permite maturações muito boas”. Geram-se assim “vinhos com muita estrutura, minerais, com potencial de longevidade na garrafa”, privilegiando-se “não a componente aromática, mas a estrutura e certa complexidade e mineralidade”.
Continue a ler o artigo em Revista de Vinhos.