“Deslizo pelo tempo, num movimento constante, fecho os olhos, para sentir cada momento… Baloiço. Escuto o vento. Baloiço, num doce baloiçar… Sinto-me tão jovem, não quero parar, de deslizar…” Anabela Pacheco.
Preconceito é uma ideia ou opinião que desconsidera verdades básicas. É semelhante à ignorância ou falta de conhecimento, experiência ou educação. É algo que não deve ser tolerado, pois todos nós nos deveríamos esforçar para melhorar e aprender mais, a cada dia que passa.
Há muito tempo que os psicólogos sabem que as pessoas têm preconceitos umas em relação às outras, com base em afiliações de grupo, sejam elas raciais, étnicas, religiosas, sexuais ou mesmo políticas. No entanto, pouco sabemos sobre o porquê das pessoas serem propensas ao preconceito em primeiro lugar. Uma pesquisa que já vos falei anteriormente, usando macacos, sugere que as raízes do preconceito estão profundamente fixadas no nosso passado evolutivo e que se devem sobretudo a dois motivos principais: o primeiro tem a ver com o fazermos ou não parte de um grupo e o segundo com a falta de experiência/conhecimento perante determinada realidade.
No mundo do vinho, talvez seja melhor dizer no mundo dos consumidores de vinho, sobretudo dos recentes enófilos, existem muitos preconceitos e comportamentos de forte cepticismo em relação a alguns vinhos ou até mesmo regiões. Parece que quando temos uma folga na carteira para comprarmos vinhos mais exclusivos (por vezes, ser mais caro parece que basta para ser bom) temos obrigatoriamente de dizer mal dos vinhos mais acessíveis, para que possamos fazer parte do grupo dos “sempre certos e vinicamente cultos”.
Quando o problema já não é o preço demasiado baixo para o nosso palato ecléctico, esses suprassumos do conhecimento vínico passam a criticar uma determinada região, apenas porque sim… Caso aconteça a chatice de existir consenso quanto à região, atacam o alvo mais fácil: a casta. Este tipo de comportamentos é muito difícil de mudar entre os consumidores, pois muitas vezes (não nos podemos esquecer disso) são causados por campanhas de publicidade e marketing muito eficientes e muito direccionadas, que acabam por influenciar fortemente as escolhas dos consumidores, ou pelo menos de boa parte deles.
Para determinado preconceito ficar mais fortemente enraizado basta associá-lo a uma característica objectiva (cor, teor alcoólico, preço da uva, doçura, acidez, complexidade) ou então relaciona-lo com alguma característica má do passado. É por tudo isto, que os preconceitos e cepticismo em relação a alguns vinhos, produtores ou regiões pouco mudam, ou no mínimo são muito difíceis de mudar.
Deixando de parte os casos além fronteiras (onde por exemplo um filme de ficção pode destruir a reputação de uma casta, como a Merlot no filme Sideways) uma das regiões que mais padece desta concepção desfavorável (e nada assente em dados objectivos) é a região dos Vinhos Verdes. (Curiosamente esta região é cada vez mais reconhecida internacionalmente pela excelência dos seus vinhos, especialmente os brancos, será isto também um preconceito? :P).
Dois rios correm pelas colinas verdes e montanhas do noroeste de Portugal: o Minho e o Lima. Estes rios fluem do oeste para o Oceano Atlântico e no seu caminho, cortam a zona norte da região dos Vinhos Verdes, criando as condições óptimas para a produção de vinhos brancos de qualidade, sobretudo com a casta Alvarinho. É à cor destas colinas, que segundo alguns, se deve o nome desta região. O verde é também responsável por alguns preconceitos ou concepções alternativas cujo principal exemplo é a colheita das uvas enquanto estas ainda estão verdes.
Se acrescentarmos outras como o obrigatório baixo teor em álcool, a sempre presente efervescência, a acidez sempre em excesso, a produção em larga escala e a secura imperativa, completamos o ramalhete de preconceitos completamente disparatados. Na verdade e sem qualquer margem para dúvidas, a região dos Vinhos Verdes é diversificada e versátil em estilos e perfis de vinho, conhecida por produzir não só os vinhos leves e frescos (mais comuns e mais ligados ao passado da região), mas também vinhos minerais, complexos e muito estruturados. Hoje falo-vos de um produtor que com orgulho está a ajudar a derrubar alguns destes preconceitos: o Vale dos Ares.
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