“Se alguém me perguntar o que é o tempo, declaro logo a minha ignorância: não sei. Agora mesmo ouço o bater do relógio de pêndulo, e a resposta parece estar ali. Mas não é verdade. Quando a corda se lhe acabar, o maquinismo fica no tempo e não o mede: sofre-o. E se o espelho me mostra que não sou já quem era há um ano, nem isso me dirá o que o tempo é. Só o que o tempo faz…” José Saramago.
Não se assustem, a breve história do tempo que vos vou contar hoje, não tem a ver com Stephen Hawking, o Big Bang, com buracos negros, com cones de luz, com universos paralelos ou com a teoria das Supercordas. Na verdade, e pensando melhor, se calhar tem a ver, um pouco, com isto tudo…
Como diz Saramago, o tempo que envelhece, gasta, destrói e mata, é também o mesmo que vai purificar as águas, povoá-las pouco a pouco de criaturas, até que cinco anos passados o rio ressuscite da fossa comum dos rios mortos, para glória e triunfo da vida. Mas será que esse tempo “passado”, num caso e noutro, é o mesmo?
Uma das coisas que mais muda com o envelhecimento é a percepção que vamos tendo do tempo. Quando somos crianças, a mola do tempo parece que se estica quase infinitamente: uma semana pode parecer um ano, e um ano pode parecer uma vida inteira (que saudades daquelas férias de Verão, que pareciam não acabar!!!).
Mas à medida que vamos envelhecendo, o tempo parece querer acelerar desalmadamente. Claro, que um dia de trabalho mais cansativo fura esta regra empírica, mas se olharmos para o quadro mais global, os anos começam a suceder-se a uma velocidade tão vertiginosa que passamos dos 30 para os 40, enquanto tomamos um café…
Mas, porque é que o tempo passa tão rápido à medida que envelhecemos? A resposta é a rotina. Quando somos jovens, as novas experiências, a confrontação com uma novidade ou a descoberta de um sentimento novo acabam por deixar marcas na nossa memória, deixando-nos com a percepção de uma “vida cheia” e de um tempo prolongado.
Pelo contrário, quando fazemos uma mesma coisa repetidamente, o nosso cérebro consolida as ações repetidas numa só memória, deixando-nos com uma sensação de tempo contraído. Desta forma, a rotina vai compilando a nossa memória em “pastas de acontecimentos parecidos”.
Se nada de significativo e novo acontece, não temos nada que nosso cérebro possa processar e o tempo diminui subjetivamente. A este propósito, o Dr. Marc Wittmann, psicólogo da Universidade de Friburgo, sugere-nos um jogo mental para nos testarmos.
Tentem lembrar-se, das quase 260 viagens, que em média, fazem para o trabalho num ano. A tarefa é bastante difícil, provavelmente só se recordam de duas ou três (aquelas em que algo inesperado aconteceu: um furo no pneu, uma mini-saia com um tecido muito sedoso 😛 ou então uma surpreendente descida dos combustíveis), porque o nosso cérebro tenta arrumar todas essas deslocações numa única memória.
Este fenômeno, como é óbvio, piorou com a pandemia. Para aqueles que trabalharam (ou pelo menos tentaram) a partir de casa, os dias pareciam querer ser exatamente iguais, no mesmo local, com as mesmas pessoas e sem nenhum dos “dilatadores temporais” habituais: as viagens, os restaurantes, os amigos e a família mais alargada, que até aí apimentavam a rotina.
Depois de um período de confinamento quase interminável (muitas vezes carregado de perdas, dor, medo e tristeza) e com a ajuda das vacinas, as pessoas começam agora a sair das suas casas para descobrirem que passou mais de um ano, sem que elas se tenham apercebido … verdadeiramente.
Essa sensação do “tempo passado demasiado rápido” chega mesmo a ser emocional, pois acaba por interferir com a nossa noção de existencialismo enquanto espécie: a do tempo linear e de uma vida com uma quantidade finita de tempo disponível, que decorre numa direção nada agradável, em que uma das “estações” mais rápidas é a velhice e … a última paragem ninguém quer lá chegar, pelo menos demasiado cedo.
Cabe-nos enquanto seres emocionais que somos, abrandar essa viagem enriquecendo a nossa vida com coisas novas, com coisas surpreendentes, com coisas que façam o nosso cérebro dizer: “fdx, não tenho nenhuma pasta para incluir esta memória, lá vou eu ter de perder tempo a criar uma”.
Esse tempo gasto pelo nosso cérebro é tempo ganho que se estende nas nossas memórias. Hoje falo-vos de um sitio, que sem margem para dúvidas, vos pode ajudar nessa bonita tarefa de dilatar o tempo: a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo Winery House – Relais & Châteaux.
O edifício encontra-se imaculadamente preservado, tendo mantido o legado histórico através dos móveis antigos de madeira escura que se encontram espalhados um pouco por todo o sereno hotel.
Do lado de fora existe uma espécie de ramada que permite que os almoços/jantares possam também ser preenchidos com a vista arrebatadora para o rio. Por falar em vista, acho que as imagens da piscina falam por si próprias. 😉
Com um enquadramento único voltado para o rio Douro, os 11 quartos da antiga casa senhorial do século XIX oferecem, todos eles, vistas sobre os socalcos de vinha centenária e para o Douro, num enquadramento paisagístico, literalmente, de cortar a respiração.
Alguns deles (como o que a Bia ficou) têm até uns curiosos degraus de madeira que as antigas senhoras do Douro usavam para subir para as camas. A estes detalhes vintage são acrescentados mimos modernos como amenidades Claus Porto e uma casa de banho requintada.
Os visitantes têm ainda à disposição uma Wine Tour (muito completa e que termina na bela sala de barricas), um museu (onde há muito para aprender sobre a riquíssima história da região e da Quinta) e uma loja/sala de provas (onde é possível degustar os vinhos da propriedade, ao mesmo tempo que se desfruta de alguns deliciosos petiscos durienses).
Para último, as duas coisas que, quanto a mim, melhoraram, imensamente, desde a nossa última visita. Em primeiro e a mais evidente, o serviço, que ficou muito mais eficaz, competente, preciso, dedicado e elegante, tudo aquilo que um Relais & Châteaux tem de ter.
Depois o restaurante, que com algumas/pequeníssimas “afinações” (mais ao nível da forma do que do conteúdo) atingirá o nível que o hotel já alcançou. Nele, a equipa do Chef André Carvalho, está a tentar reescrever a paisagem culinária do Vale do Douro, mantendo o sabor (influenciado pela sua herança duriense), acrescentando uma roupagem mais apelativa, mais fresca e com inúmeras/complementares texturas.
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