Preferia ter escrito esta crónica em plena quadra festiva dos Santos Populares. Especialmente nessa época em que os santos eram mesmo populares. Temos que convir que nos últimos dois anos os Santos Populares tiveram tudo menos povo.
Para sermos verdadeiros, remete para 2019 essa luta pelo voto popular entre as febras e as sardinhas. Nunca gostei de bater em mortos, como nunca achei bem dar pontapés em quem já está no chão. Fora do ringue das festas dos Santos Populares, com as sardinhas fora de combate, é muito fácil preferir febras.
Puxar a brasa à minha sardinha faz muito sentido nos arraiais dos santos populares, mas fora desse santo mês de junho, puxar a brasa às minhas febras não tem o mesmo valor. Por muito boas que elas sejam. Por muito prazer que me dê comê-las .
Não pertenço ao grupo dos que dizem que as sardinhas se querem como as mulheres pequeninas. No tempo em que comia sardinhas escolhia sempre as maiores e as mais gordinhas. Bem assadas e apimentadas. Devo confessar que acabado o tempo de estudante deixei de gostar de sardinhas. Mas não de mulheres. Nem delas apimentadas. Boas e pequeninas, como as sardinhas .
Uma boa febra é sempre uma boa febra. Mas quem gosta de uma boa febra sabe que uma boa febra na noite de S.João tem um gostinho especial. Recordo sempre com muita saudade a primeira que comi, na minha primeira directa. Na praia do Homem do Leme. Se a febra falasse, praia do homem do mastro. É também dessa madeira que se fazem as brasas. Dos fogos que ardem sem se ver.
O que me afastou das sardinhas foi a digestão. Gerir as sardinhas em tempo de santos não é a coisa mais simples do mundo. Mas a indigestão que acarretam é que já não aguento. A última vez que uma sardinha me entrou na boca, num dia de festa popular, estive a “falar” com ela até ao jantar do dia seguinte. Mesmo que me tivesse aparecido uma boa febra, deitadinha no meu prato, levaria uma valente nega. Dei comigo a pensar que as sardinhas são ciumentas. Depois de as comermos, não querem ver nada mais por perto tão cedo. Sejam febras das boas, sejam até outras sardinhas .
É por estas e por outras que eu defendo que as febras são mais populares que as sardinhas. É verdade que as sardinhas atingem o seu auge de popularidade na quadra dos Santos Populares, São João, Santo António e São Pedro. Mas depois, quando começamos a descer para o final do ano até entrarmos no Ano Novo, são as febras que se tornam as rainhas das festas. Acompanhadas por um ou outro courato.
É que a descer …todos os Santos ajudam!
Partilhe este texto: