O coração que lhe leva a razão
Vitor Matos, o chefe habituado a estrelas Michelin que descobriu no vinho o sal e a pimenta da vida, acredita que haverá de ter uma vinha, a partir da qual conseguirá reforçar os laços à terra, numa espécie de reencontro emocional e físico com a sua identidade. Por ora, apresenta os Natura by Vítor Matos, edições de colecionador com amigos como António Maçanita, António Sampaio, Dirk Niepoort, Luis Leocádio, Márcio Lopes, Quinta do Arcossó, Quinta do Javali ou Quinta de Ventozelo.
A entrevista que estávamos a gravar caminhava para a fase final quando Vitor Matos suspira fundo e desabafa. “Acabo por não conseguir responder muito bem às perguntas que me fazes porque quando o coração se sobrepõe à razão ou ao negócio é muito difícil responder”. Ali, naquele momento, Vitor Matos assume em público o que lhe vai na alma, tudo aquilo que a pandemia de alguma forma precipitou e passou a tornar urgente.
“Qual é o amor que vai vencer”, torna-se inevitável questionar. “O meu sonho é dentro de três, quatro ou cinco anos deixar a cozinha e conseguir fazer vinhos, viver unicamente de vinhos. Não é racional, a minha mulher diz que estou maluco”, admite.
O vinho parece ter-se tornado numa obsessão para Vitor Matos. Das saudáveis, como daqui a pouco perceberemos.
Nascido em Vila Real, a infância e juventude foram passadas entre Portugal e a Suíça porque a família decidiu procurar um futuro mais promissor. Dos regressos ao meio rural, tantas vezes parco em recursos, lembra-se que nunca podia faltar vinho na mesa, até porque a generalidade das casas tinha um lagar e meia dúzia de pipas onde as famílias tratavam de ter vinho para autoconsumo.
“Lembro-me do cheiro da adega do meu tio”, recupera Vitor Matos. Em menino, depois também em puto, juntamente com os primos entrava muitas vezes nos pipos para os ajudar a limpar, num misto de auxílio familiar e brincadeira pela certa. Daí ao que hoje lhe está a acontecer, nem o próprio suspeitaria possível.