António Amorim nem sequer é de Torres Vedras, mas o fervor com que se dedicou a aprimorar a glória da pastelaria saloia foi tal que produz a mais futurista e sápida versão do bolo que todos.
Na orla chamada saloia que enfeita Lisboa com receituário popular e a que devemos maravilhas em forma de pão, fruta e criação, o tempo e o engenho foram construindo de forma sustentada preciosidades ao lado das quais formos crescendo e vivendo. A configuração tradicional é a de um pastel cónico fechado de massa de amêndoa recheado com creme de ovo e amêndoa e sempre em Torres Vedras se vendeu em caixas de meia dúzia, com esta ou aquela variação. Confesso que talvez por conviver de perto com o pastel de feijão desde muito novo, nunca lhe reconheci o mérito que mais tarde percebi ter, e entre fresquíssimo e tenro no tocante à secura sempre preferi o totalmente seco, copo de massa simples e bem cozido, recheio de creme de feijão branco também ele firme e de sabor discreto. Já se vê que na verdade nunca morri de amores pelo pastel de feijão. Passaram muitos anos sem novidades pastelares significativas, até que dei com o chef António Amorim, que já conhecia da passagem por cozinhas de grande gabarito, em funções de chefia e coordenação. Foram diversos os postos por onde passou, um pouco por todo o país. Cobriu uma gama vasta de estilos e responsabilidades, desde a cozinha mais tradicional até à cozinha de vanguarda, orientada para a sustentabilidade e racionalização do desperdício. Quando me reaproximei do chef António Amorim pelo seu pastel de feijão, a surpresa foi total, perante a inteligência e a solidez da solução, o que francamente já esperava, dado o talante inovador do seu perfil. Em vez do bolo fechado, criou duas placas de massa crocante de manteiga e amêndoa que à maneira da sanduíche levam creme de ovo dentro. Para facilitar a exploração, criou também um curioso packaging que evita que o creme se escape e o bolo perca a consistência. Genial.
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