“A recordação é o perfume da alma. É a parte mais delicada e mais suave do coração, que se desprende para abraçar outro coração e segui-lo por toda a parte.” George Sand.
Os preconceitos que ainda existem na nossa sociedade, na sua maioria, têm por base noções de normalidade/proximidade que vamos desenvolvendo nos diferentes grupos onde nos inserimos. Essas noções podem ser classicistas, raciais, étnicas, religiosas, desportivas, políticas e até mesmo vínicas. Pouco sabemos sobre a causa inicial que origina um determinado preconceito. Uma pesquisa recente, usando macacos, sugere que essas vinhas do preconceito foram plantadas lá bem atrás, durante o processo evolutivo que nos tornou o Homo sapiens sapiens, o homem que sabe o que sabe.
Com sede de conhecimento, um conjunto de investigadores da universidade de Yale (EUA) viajou para Cayo Santiago, uma ilha sem humanos, no sudeste de Porto Rico, também conhecida como a “Ilha do Macaco”, para estudar o comportamento dos macacos rhesus. Tal como os humanos, estes macacos vivem em grupos e estabelecem fortes laços sociais. Os rhesus têm também outra característica muito humana, a de desconfiar daqueles que consideram potencialmente ameaçadores. Para tentarem descobrir se os macacos distinguiam os membros internos (aqueles que pertenciam ao seu grupo) dos externos/estranhos (aqueles que não pertenciam), os investigadores mediram a quantidade de tempo que os macacos olhavam para o rosto fotografado de um “macaco do grupo” e compararam-no com o tempo gasto com um “macaco externo”.
Em quase todas as experiências foi verificado que os macacos olhavam mais tempo para os desconhecidos do que para os membros do seu grupo, o que sugeria que seriam mais cautelosos com o rosto de estranhos. É claro que este resultado experimental poderia também advir de uma maior curiosidade para com o desconhecido (não, isso não justifica que olhemos mais interessadamente para uma desconhecida do que para a nossa esposa :P). Para descartar essa hipótese, os investigadores, aproveitando o facto dos macacos rhesus machos deixarem os seus grupos de infância assim que atingem a idade reprodutiva, emparelharam rostos estranhos mas familiares (macacos que haviam deixado o grupo recentemente) com rostos menos familiares (macacos que se juntaram ao grupo recentemente).
Quando submetidos a este novo teste, os macacos continuaram a olhar durante mais tempo para os rostos dos que já não pertenciam ao grupo, embora estivessem mais familiarizados com eles. Os rhesus estavam claramente a fazer distinções com base na pertença a um determinado grupo. De modo a obterem resultados ainda mais precisos e irrefutáveis, os investigadores usaram então uma versão simplificada do teste de associação implícita (IAT). Para os humanos, o IAT é realizado num computador que mede as tendências inconscientes ao determinar a rapidez com que associamos palavras diferentes (por exemplo, “bom” e “mau”) com grupos específicos (por exemplo, rostos de afro-portugueses ou europeus-portugueses).
Basicamente se uma pessoa é mais rápida em associar “mau” com rostos afro-portugueses em comparação com rostos europeus-portugueses, isso sugere que ela nutre um preconceito implícito contra os afro-portugueses. Na versão simplificada dos macacos rhesus, os investigadores emparelharam as fotos de macacos internos com coisas boas (como frutas), e os dos externos com coisas más (como aranhas, já agora isto também evidencia um certo preconceito ;)). Quando um rosto interno era emparelhado com frutas, ou um rosto externo era emparelhado com uma aranha, os macacos rapidamente perdiam o interesse. Mas quando um rosto interno era emparelhado com uma aranha, os macacos perdiam mais tempo a olhar para as fotos.
Presumivelmente, os macacos achavam estranho quando algo bom era combinado com algo mau. Isso sugeria que os macacos não distinguiam apenas entre internos e externos, mas associam os internos com coisas boas e os estranhos com coisas más. De um modo geral, estes resultados comprovaram uma certa base evolutiva para o preconceito. Outros investigadores, no entanto, acreditam que o preconceito é exclusivo dos humanos, uma vez que o mesmo depende de processos complexos de pensamento. Nesse sentido, outros estudos científicos demonstraram que as pessoas são mais susceptíveis a demonstrar preconceitos logo após serem relembrados da inevitabilidade da sua morte ou de terem sofrido um golpe na sua auto-estima.
Como apenas os humanos são capazes de perceber que um dia irão morrer ou de ter uma certa noção da sua auto-imagem, esses estudos reforçam a convicção de que apenas os humanos seriam capazes de ter preconceito. Certo é que o comportamento dos macacos rhesus implica que a nossa tendência básica de ver o mundo em termos de “nós” e “eles” tem uma origem mais antiga, ligada à criação de grupos sociais. O preconceito humano evoluiu em função da nossa convivência nesses grupos. Essa união, enquanto grupo, permitiu que os humanos tivessem acesso a recursos vitais para a sua sobrevivência, como a comida, a água ou um abrigo. Os grupos ofereciam ainda outras vantagens, como tornar mais fácil encontrar um companheiro, a possibilidade de cuidar comunitariamente dos filhos e a protecção colectiva.
No entanto, a vida em grupo também nos tornou mais cautelosos com os estranhos, pois estes poderiam prejudicar o grupo espalhando doenças, matando ou ferindo indivíduos e roubando recursos preciosos. Para nossa própria protecção, desenvolvemos formas de identificar quem pertence ao nosso grupo e quem não pertence. Com o decorrer do tempo, esse processo de avaliação rápida dos outros, tornou-se tão simplificado que ficou inconsciente, e é por isso que grande parte dos nossos preconceitos surgem automaticamente, sem pensarmos nisso, até nos vinhos…
Quantas vezes já ouvimos expressões como: “Os vinhos franceses são bons mas caros; os vinhos portugueses são os melhores do mundo; os riesling são muito doces; rosé é para as mulheres; os espanhóis só têm bons tintos; Porto tónico? Isso é estragar o Porto; Porto Branco é mais sumo do que vinho”. Hoje com a ajuda do Churchill’s White Port Dry Aperitif e de um teste da delicadeza implícita (IDT) vou refutar dois desses preconceitos. 😛 Este Porto resulta de uvas em perfeito estado provenientes de vinhas tipo A (as de mais elevada qualidade), que depois de colhidas sofreram uma ligeira maceração a pé e fermentação pelicular. Após a fermentação, o vinho passou por um período de envelhecimento em cascos de carvalho durante 10 anos!!!. Hum, se calhar isto vai originar algo bem melhor que sumo… 😉
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