Abegoaria

A experimentar

Granja – Amareleja, Moreto e Vinho de Talha.

Na Granja-Amareleja, algumas castas brancas como Manteúdo, Trincadeira das Pratas, Roupeiro, Perrum, Rabo de Ovelha e Diagalves (conhecida localmente por Pendura da Amareleja), são a alma dos seus vinhos brancos. Mas é a Moreto que acolhe o destaque pela identidade que confere aos tintos desta sub-região.

O desafio era determinado e claro: “Venha descobrir a sub-região do Alentejo mais diferenciadora e menos conhecida, a Granja-Amareleja!”. Por si só, essa descoberta já seria incitante e convidativa. “Aprender os segredos da casta Moreto e das vinhas velhas onde ela conserva a sua identidade” foi o derradeiro apelo, o desafio que tornava o convite definitivamente irresistível.
A incursão por estas terras do Alentejo interior teve ainda como aliciante o saber e a experiência do mestre José Piteira, que nos orientou pelos segredos da casta Moreto e pelos seus vinhos de talha e, simultaneamente, pôr à prova o Vinho de Talha no que diz respeito ao envelhecimento.

Mesmo os enófilos mais atentos dão-se conta que o Alentejo é muito vasto e diversificado nos seus territórios, mas talvez não se tenham apercebido que, por isso mesmo, é uma das duas regiões vitivinícolas que acolhe maior número de sub-regiões com Denominações de Origem própria em Portugal, sendo a Granja-Amareleja uma das oito DOP do Alentejo. É, talvez, uma das DOP alentejanas menos badaladas, na atualidade. Desde logo, a patente diversidade do território contraria uma certa e injustificada noção de uniformidade dos vinhos alentejanos.

Esta sub-região situa-se na margem esquerda do Guadiana, paredes-meias com a fronteira espanhola. Agrega as freguesias de Amareleja e Póvoa de São Miguel e parte das freguesias de Santo Amador e de São João Baptista, do concelho de Moura, e as freguesias de Granja, Luz e Mourão, do concelho de Mourão. Toda esta área está sujeita a um dos climas mais áridos e inclementes de Portugal. A título de exemplo, a temperatura mais alta de sempre registada em Portugal foi, a 1 de agosto de 2003, de 47,4ºC, justamente na Amareleja.

A inauguração da barragem do Alqueva, em 2002, permitiu a criação do maior reservatório artificial de água da Europa Ocidental, apelidado pela BBC News de o Grande Lago. Construída tendo em vista o regadio para toda a zona do Alentejo e produção de energia elétrica, entre outras atividades, veio a alterar algumas das condições edafoclimáticas e, em especial, atenuar a secura e as elevadas temperaturas que se fazem sentir. Os solos são em geral “paupérrimos, forrados a barro e xisto, oferecendo produções e rendimentos baixíssimos”, segundo informação da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA). Contudo, ao visitar uma das vinhas de Moreto com cerca de 80 anos, pisamos chão com elementos de quartzo, xisto, calhau rolado, de base arenosa e menos argila, sendo realçado por José Piteira que, para a casta Moreto, é importante que o solo não seja muito húmido, pois não conseguiria amadurecer convenientemente. Pelo contrário, revela, é nas areias que está o melhor Moreto, nas vinhas mais antigas, com frequência em pé-franco, sem recurso a porta-enxerto, como vimos numa vinha tradicional na Póvoa de São Miguel, em que coabitam oliveiras e videiras. Ficamos a saber que, até aos anos 90, a variedade representava 80% do total das castas plantadas na Granja-Amareleja. Os melhores locais eram reservados para os cereais, os menos bons para oliveira e vinha.

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