O padrão alimentar nacional tem sofrido grandes modificações ao longo dos anos. Se fizermos um retrato dos hábitos alimentares percebemos, claramente, que os portugueses aumentaram o consumo de alimentos de origem animal em detrimento de alimentos de origem vegetal, ao longo dos anos. Acresce que não temos conseguido ter um consumo suficiente de frutas e hortícolas, tal como recomenda a Organização Mundial de Saúde e que a ingestão de açúcar e de sal é também bastante superior ao desejado.
Este cenário resulta num balanço preocupante: Portugal é dos países europeus com maior número de anos de vida saudáveis perdidos. Um em cada 10 portugueses tem diabetes, um em cada três tem hipertensão e um em cada dois é obeso ou tem excesso de peso.
Urge, por isso, melhorar os hábitos alimentares da população portuguesa. E isso implica olhar para o sistema alimentar como um todo, desde a produção à confeção no domicílio ou à restauração. Ou seja, é preciso olhar para o sistema “do prado ao prato”.
Para agravar o panorama, a COVID-19 parece também ter contribuído para a alteração dos hábitos alimentares de uma parte significativa da população nacional. De acordo com dados do estudo sobre alimentação e actividade física, publicado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), em Maio de 2020, que pretendeu conhecer os comportamentos alimentares em contexto de contenção social, 45% dos inquiridos afirmaram ter mudado hábitos alimentares durante o período de confinamento, com quase 42% a admitirem ter sido para pior.
Ora, o resultado é evidente. Prevê-se um claro agravamento do estado nutricional e de saúde dos portugueses. Contrariar esta penosa realidade não é impossível e, em Portugal, temos os ingredientes certos: a nossa prodigiosa dieta mediterrânica.
É urgente mudar e esta mudança pode começar a ser feita em nossas casas, por cada um de nós, adotando a dieta mediterrânica, um padrão alimentar com uma oferta predominantemente de origem vegetal e amiga do ambiente, de proximidade, e que integra uma enorme biodiversidade de produtos sazonais. Por outro lado, salienta-se que é um padrão alimentar com avultada evidência científica de que é uma forma saudável de comer.
A somar à saúde, todos reconhecemos que a dieta mediterrânica é a única que guarda relação com a nossa tradição, com a nossa cultura e que tem alimentos próprios da nossa zona geográfica. O desafio é simples e eficaz: reavivar memórias, saudar os nossos antepassados e comer melhor!
Alexandra Bento
Bastonária da Ordem dos Nutricionistas
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