Crítica de Take Away
Oficina
Tipo Cozinha: Portuguesa autor
Tempo: 90 minutos (Foz do Douro)
Entrega: Própria
Taxa de entrega: Sem taxa de entrega
Gosto muito do Marco Gomes.
Tem a franqueza, a disposição e a autenticidade dos transmontanos. Vigiei-o quando foi eleito cozinheiro do ano, já lá vão uns bons anos.
Vigio sempre as pessoas a Norte. Sou regionalista mas não sou tribal porque acho que quando o somos alimentamos ou legitimamos o centralismo. Temos que ser nós a fazer pela vida para que nos não considerem os eternos provincianos.
Já agora e retomando acho, sim, que o Norte tem melhores condições para produzir bons cozinheiros. Dá-lhes a terra, que é background de tudo, e um receituário antiquíssimo entranhado nas tradições e nos costumes das famílias.
Ao Marco faltava a Oficina. Para que o mundo da terra que ele tão bem conhece se albardasse com o chique que resultou da belíssima recuperação na Miguel Bombarda – a rua de todas as Artes, de uma antiga oficina de automóveis. Hoje o Marco e o Oficina são uma dupla imparável que pede meças a qualquer chef michelado.
Por falar nisso, vou contar uma história reveladora, para o bem e para o mal, dos tempos em que vivemos.
O Marco é caçador, como eu, e tem uma relação com a natureza sem preconceitos urbanos. Uma relação conhecedora das suas pulsões, respeitadora dos seus equilíbrios, amantíssima da sua existência harmoniosa. Mas não tem pejo de vir fazer uma cabidela ao natural para o Youtube. E isso prejudica-o nas elites que hoje fazem opinião. E que provavelmente o não convocam para outros voos.
Mas vamos para a mesa que a fome já nos invade e paralisa. O Marco, ou o Oficina, são uma desgraça a cumprir horas. A minha encomenda veio atrasadíssima. Houve justificação mas, a verdade é que também houve atraso.
Ainda assim, tudo vinha na temperatura e na disponibilidade certas. Sem demasiada preocupação estética mas cumprindo o que se espera de um serviço que é transportado com as devidas contingências para a casa dos outros.
As entradas estavam soberbas, reveladoras da magia e do portento que saem das mãos do Marco, ainda a cheirar a urze. Com destaque para a textura e intensidade da terrine com tostas da casa, que o Marco faz como ninguém.
Na substância vou falar de um prato que provavelmente acabará. Porque há sempre no menu um grande prato da cozinha regional. No meu caso, quiseram os Deuses que fosse um cozido do Barroso. O exacto local sagrado em Portugal onde encontramos os melhores enchidos e fumeiro do mundo!
O salpicão em ligeira vinha de alho, o presunto, a moira, a chouriça de carne, a farinheira. Tudo ordenado de forma sublime num prato de cozido, outra vez sem preconceitos – a unha, a orelha e a barriga reluziam profusa e distintamente na travessa.
A costelinha, os ossos de assuã, o nispo, tudo com couves, batata, nabo e cenoura à séria e com um fantástico arroz posto a abrir, na água generosa do cozido.
O Marco ou o Oficina que foram uma lástima nas horas são os maiores a cozinhar. E isso compensa tudo, até porque sei que o atraso não é a regra mas a excepção.
Depois veio a sobremesa – que bonitas as rabanadas! Gosto sempre mais delas fora da época e nem percebo porque é que uma receita destas, que nada tem de sazonal, espera pela quadra natalícia para ter encontro marcado connosco.
Fiquei consolado e no remanso do depois, já relevada a espera do almoço, dei comigo a pensar que na próxima época de caça tenho que ir às perdizes, cheirar outra vez a terra e a madrugada, com o meu amigo Marco!
Comida *****
Embalagem ****
Conservação ****
Preço ***