Aletria – Receita Indiana-Gujarati

A experimentar

Vou contar-te um segredo: nunca tinha feito aletria!

Até esta semana, quando escolhi esta receita do livro Coentros & Garam Masala para replicar e partilhar aqui, no âmbito da rubrica “Diz-me o que lês, dir-te-ei o que comes”, que conta com o apoio da Livraria Bertrand.

ALETRIA: A SOBREMESA DA MINHA AVÓ

Coentros & Garam Masala de Bina Achoca e Rita Ávila Cachado, editado pela Marcador, é mais do que um livro de receitas. É um instrumento de cultura, que nos leva a viajar pelo património gastronómico hindu, nomeadamente o da região do Gujarate, no Noroeste da Índia, onde estão as origens de muitos hindus em Portugal.

Bina Achoca nasceu em Moçambique, para onde os seus pais, oriundos de Diu, emigraram, e onde mantiveram os seus hábitos e tradições. Aprendeu a cozinhar com os pais desde muito nova, aprimorando as suas receitas e técnicas. Casou aos 18 anos, altura em que veio para Portugal.

NESTA ALETRIA, A DUPLA CANELA & LIMÃO FOI SUBSTITUÍDA POR CARDAMOMO & NOZ-MOSCADA

As receitas de Bina Achoca são simples, típicas de uma culinária familiar e de conforto. A origem gujarati está presente, mas muitas das receitas surgem adaptadas aos ingredientes e hábitos dos portugueses, fruto da dinâmica cultural da cozinha de Bina: tanto confeciona chamuças (ao que consta, “as melhores de Lisboa”), como prepara habilmente rissóis, moelas ou caril de bacalhau – receitas que, aliás, podes encontrar no livro.

Um dado curioso da vida e do percurso de Bina, é o facto dela ser e ter crescido numa família vegetariana, mas ter casado com alguém de uma casta não-vegetariana.

O que poderia ter sido fonte de atrito ou divergência foi antes assimilado de forma tranquila, com Bina a aprender e a aperfeiçoar também receitas não-vegetarianas.

Após os textos introdutórios, que nos dão a conhecer a autora e algumas especificidades da cozinha indiana-gujarati, chegam as receitas, divididas por:

• Chá

• Entradas

• Molhos

• Athanum (espécie de picles)

• Saladas

• Acompanhamentos

• Sopas

• Pratos vegetarianos

• Pratos de carne e peixe

• Doces

• Bebidas

• Pratos mix

De uma maneira geral, as receitas são simples e rápidas de confecionar, bastando para tal ter os temperos adequados, que hoje em dia já não são difíceis de encontrar, seja em mercearias mais exóticas, seja em lojas online.

O livro inclui uma espécie de glossário sobre as especiarias e os temperos com algumas dicas de substituição.

Apesar de ter escolhido fazer a aletria – quando vi a aletria “branca” lembrei-me imediatamente da minha avó Maria, que a aromatizava com limão e canela, e achei que era um ótimo pretexto para fazer aletria pela primeira vez -, as receitas deste livro que mais quero experimentar são os “Shak”, ou seja, os pratos de caril. O Shak de couve-flor e ervilhas, o Shak de feijão-verde, beringela e batata e o Shak de frango, já têm um post-it em cima.

As fotos, de Gonçalo F. Santos, são despretensiosas e evidenciam o resultado final das receitas. É um livro frugal, sem rodeios.

Tal como Clara de Sousa afirma no prefácio “Este não é um livro com fotos lindas, para ficar guardado (e esquecido) numa prateleira. É um livro para abrir muitas vezes, para se sujar com salpicos das especiarias, que noutros tempos valiam ouro.”

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ALETRIA – RECEITA INDIANA-GUJARATI

Adaptado ligeiramente do livro Coentros & Garam Masala, de Bina Achoca e Rita Ávila Cachado

INGREDIENTES

1 chávena de massa de aletria partida

1 colher de sopa de manteiga (a receita original pede uma concha de manteiga clarificada ou ghi)

1 chávena de leite meio-gordo morno

1 chávena de água morna

1/2 chávena de açúcar (ou um pouco menos, apesar da receita original pedir 1 chávena)

Noz-moscada qb

Sementes de cardamomo qb

MÉTODO

Leva a manteiga a derreter e junta a massa de aletria partida (ou esmigalhada com as mãos).

Deixa saltear um pouco, junta o leite e a água mornas, mexe e junta o açúcar.

Envolve tudo, tempera com noz-moscada em pó ou ralada na hora e algumas sementes de cardamomo ou cardamomo em pó.

Deixa cozer mexendo sempre, até a mistura se apresentar bem cremosa, o que deve demorar cerca de 10-15 minutos.

Verte para uma taça ou prato fundo.

Podes comê-la ainda morna e pouco consistente, ou então deixar arrefecer, levar ao frio e servir cortada em quadrados (era como a minha avó fazia).

NOTAS:
  • Usei uma chávena-medida de 250 ml de capacidade;
  • Se quiseres que a aletria se mantenha mais líquida, adiciona 3 chávenas de leite em vez de uma;
  • Podes juntar ainda aos temperos a erva-doce.

O artigo foi publicado originalmente em Lume Brando.

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